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A Fundação ou Ninguém morre de tédio no hemisfério sul


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O Box Trilogia da Fundação, da Editora Aleph, conta com ilustrações de Michael Whelan.

Mês passado teve a Festa do Livro da USP (recomendo!), e, na edição passada, entre várias “cofradas” que dei – entre elas meu queridinho História Geral da África, vou falar dele em outra oportunidade – peguei a Trilogia da Fundação, de Isaac Asimov, aquela versão da Aleph com a arte dos três personagens no box – marca-páginas quase tão lindos quanto os nossos aqui na RISCØ!


Como acontece – espero – com todo mundo, fui passando outros livros na frente, naquela dança e luta incessante do leitor com sua pilha de leitura, até que, em meados desse ano, recebi a notícia da produção da série na Apple TV+. Me escondi dos spoilers e aproveitei minha viagem de férias para correr atrás do tempo perdido e poder falar para todo mundo “li o livro, é melhor que a série”. Brincadeira! É que eu sei que não teria motivação de ler uma história gigante depois que já vi na TV, pois foi assim com GoT (será que perdi algo?).

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Salvor Hardin, interpretada por Leah Harvey, é uma das personagens cujo o gênero foi alterado do livro.

Me surpreendeu muito a ideia de produzirem uma série de TV a partir daquela história, pois falta nela os elementos básicos para uma superprodução mainstream, como guerras espaciais e muita ação. Mas, então, logo fiquei sabendo que a adaptação era pouco fiel. Que bom: poderá ser uma boa complementação aos livros.


Mas o que me chamou a atenção, logo no início, foi um tema pressuposto também em O Fim da Eternidade, outro livro do Asimov, que li há muitos anos, mas que data do interstício das duas séries da Fundação. Esse pressuposto, que é colocado como um desencadeamento lógico do hiperdesenvolvimento humano, é o de que, ao vencer todas as ameaças e ao atingir o máximo de conforto e qualidade de vida, a humanidade, imediatamente, entra numa fase de queda e colapso. Tal fase podendo ser lenta e durar séculos para se concretizar, mas que, ao fim, é irrefreável e pode significar a extinção da raça humana, ou, ao menos, o retorno à barbárie.


Achei curioso rever essa ideia, uma espécie de “pressuposto subterrâneo” das duas histórias, o que me levou a pensar no desconforto que senti ao vê-la pela primeira vez. Veja bem: nada que estrague a experiência ou todos os conceitos interessantíssimos trabalhados nessas obras do “bom doutor”, é apenas um insight que tive e pude melhor trabalhar agora.


Resumindo, será que esse perigo faz sentido a partir de nosso ponto de vista brasileiro, latino-americano, do sul global? É verossímil pensar que, um dia, chegaremos a tal estado de conforto, riqueza e equilíbrio, que acabaremos definhando de tédio e estagnação? É claro que ficção é ficção, “vale tudo”, mas tenho por mim que essa ilusão é mais difícil de se comprar se você cresce num país como o nosso, onde a prosperidade chega sempre sobretaxada, exclusiva, desigual, ou como uma mera ficção mesmo.

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Isaac Asimov, o "Bom Doutor" em foto de 1985 de Yousuf Karsh.

Asimov começou a escrever a série ainda em 1942, perto do final da 2ª Guerra e ele mesmo cita sua inspiração no livro de Edward Gibbon, História do Declínio e Queda do Império Romano. A atmosfera de guerra e de ameaça do retorno à barbárie deram lugar ao otimismo dos Anos Dourados e à novidade da corrida espacial dos anos 50, quando o primeiro volume foi lançado. Talvez fosse uma intuição de que toda Belle Époque terminasse em guerra ou seria a esperança de que, ao final, a guerra tivesse revelado o “grande império”, que traria paz e prosperidade até morrermos de tédio?


Enfim, não pretendo conhecer a psicologia do autor através de seus livros, mas é fato que são obras estimulantes, independente da latitude do leitor.

 
 
 

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